segunda-feira, 18 de março de 2013

Colóquio de Estudos de História e Gênero

Pesquisadores do ATEGEN-UENF coordenam Simpósio Temático no Colóquio de Estudos de História e Gênero.

Acesse o site e participe!

http://eventos.unicentro.br/genero2013/index.php

Conferência na UESC sobre o Dia Internacional da Mulher

Professora Marinete dos Santos Silva

Dia Internacional da Mulher – uma história de lutas e conquistas



Esse foi o tema tratado na palestra realizada no último dia 8 de março, proferida pela professora Marinete dos Santos Silva, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF) e coordenadora do Atelier de Estudos de Gênero (ATEGEN), grupo de pesquisa vinculado àquela Universidade. O evento foi uma promoção conjunta dos Departamentos de Ciências Jurídicas, Filosofia e Ciências Humanas e Ciências da Educação da Universidade Estadual de Santa Cruz, com o apoio do Serviço de Referência dos Direitos da Mulher (SER-Mulher), projeto de extensão do Departamento de Ciências Jurídicas que tem apoio financeiro do MEC/PROEXT.

O evento contou com a presença da Reitora da UESC, Profa. Adélia Pinheiro, e de diversas professoras da Universidade, além de representantes de movimentos sociais, como o Coletivo da Marcha das Vadias/Itabuna, Coletivo LGBT da UESC e Rede de Mulheres Pescadoras e Marisqueiras do Sul da Bahia.

Em sua intervenção, a professora Marinete fez uma abordagem atual da situação das mulheres no Brasil e no mundo, relatando casos práticos vivenciados pelos pesquisadores do ATEGEN, que demonstram ainda a existência de situações de subserviência feminina em relação ao masculino, oriundas principalmente de uma situação de dependência, seja ela física, psicológica ou material. Ressaltou também que a situação de desigualdade, principalmente física, sempre faz com que a mulher saia perdendo nos embates com o homem. “A mulher precisa ser inteligente, senão acaba levando a pior: pode apanhar ou mesmo ser morta pelo companheiro”. A solução para o problema? “Empoderamento feminino”, defende a professora. Existe uma clara relação de poder entre gêneros, e somente com a aquisição de poder a mulher pode se tornar autônoma e acabar com a relação de dependência.

Após a exposição, seguiu-se um rico debate entre os presentes, inclusive com depoimentos de mulheres que conseguiram se libertar de situação de dependência a partir de uma tomada de posição rumo ao seu empoderamento. Ao final, mostrou-se claro o propósito de se firmar parcerias entre os dois grupos de pesquisa para projetos futuros.

Extraído do Blog SER Mulher

http://www.ser-mulher.org/dia-internacional-da-mulher-uma-historia-de-lutas-e-conquistas/

Reprodução, sexualidade e poder: as lutas e disputas em torno do aborto e da contracepção no Rio de Janeiro, 1890-1930


Artigo da Profª Drª Marinete dos Santos Silva foi publicado no último número da revista História, Ciências, Saúde: Manguinhos.

Reprodução, sexualidade e poder: as lutas e disputas em torno do aborto e da contracepção no Rio de Janeiro, 1890-1930. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 2012, vol.19, n.4, pp. 1241-1254.  Epub Nov 27, 2012. ISSN 0104-5970.  http://dx.doi.org/10.1590/S0104-59702012005000005.

Este artigo analisa o debate de médicos acerca do aborto, da virada do século XIX até os anos 1930, sobretudo na Academia Nacional de Medicina. Considerado um crime, o aborto era visto como algo que ameaçava o domínio dos maridos sobre as esposas e o controle dos atos médicos em relação ao corpo feminino. As parteiras, tidas como as divulgadoras das técnicas médicas de interrupção da gravidez, foram combatidas como grave ameaça à ordem de gênero constituída. Foram analisadas dez teses da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, os boletins da Academia Nacional de Medicina e matérias publicadas nos jornais Correio da Manhã e O Globo.

Keywords : aborto; crime; corpo; parteiras; dominação.

Acesse o artigo na íntegra:


O Dia Internacional da Mulher: o que podemos comemorar?





Matéria publicada no Blog Ciência UENF



Professora Marinete dos Santos Silva



Nos últimos anos, o Dia Internacional da Mulher popularizou-se de tal maneira que uma rede de lojas bastante conhecida em nosso país instituiu no mês de março a “semana da mulher”. As emissoras de TV em anúncios bastante ruidosos mostram as ofertas de lingerie, produtos de higiene pessoal e beleza dedicados a ela e oferecidos a preços teoricamente mais baixos. Nas empresas é bastante comum o oferecimento de rosas às mulheres como forma de homenageá-las pelo seu dia. Na grande mídia escrita — os principais jornais do país e as revistas semanais — não raro aparecem matérias onde mulheres de sucesso, com carreiras sedimentadas, abandonam o trabalho para se dedicarem ao marido e aos filhos renunciando, portanto, à independência financeira e à realização pessoal.


Essas demonstrações têm um ponto em comum: estão anexadas em uma visão de que o Dia Internacional da Mulher foi criado para homenageá-la exaltando os seus papéis tradicionais de dona-de-casa, esposa, mãe e grande sedutora. Nunca são mostradas mulheres com carreiras de êxito e que, mesmo diante de todas as dificuldades, perseveraram e muito menos os índices alarmantes da violência perpetrada contra elas.


Quando essa comemoração foi instituída pensou-se justamente em um dia onde as pessoas pudessem parar e refletir sobre a situação de metade da humanidade. Pensou-se principalmente em levar às pessoas uma questão fundamental: por que chegamos aos dias atuais com tantos avanços tecnológicos, avanços científicos nos mais variados campos, mas, apesar disso, ainda persistem grandes desigualdades entre homens e mulheres? Muitas pessoas poderiam contestar essa afirmativa dizendo simplesmente que temos uma presidenta da república, temos reitoras nas universidades públicas, deputadas, senadoras, prefeitas etc.


O fato de termos algumas mulheres em cargos decisórios não significa, entretanto, que as desigualdades tenham sido suplantadas. A maioria ainda patina em trabalhos mal remunerados e sem a mínima consideração social. Mesmo em cargos especializados, as mulheres ainda recebem em média 30% a menos que os homens.


As desigualdades econômicas entre homens e mulheres já foram aferidas por agências respeitáveis como a ONU, o IBGE, o IPEA, mas é ainda a questão da violência o que mais choca dentro desse quadro de assimetria de poderes. Em recente entrevista, o Secretário Geral da ONU revelou que a violência contra a mulher tornou-se na atualidade uma pandemia, afetando todos os países em níveis alarmantes. No Brasil, dados do Ministério da Saúde mostram que o número de mulheres assassinadas cresceu 217,6% nos últimos trinta anos. Entre 1980 e 2010, foram assassinadas 91.932 mulheres. Somente na última década, foram registradas 43.486 mortes. Se pensarmos que os Estados Unidos perderam na guerra do Vietnan 40.000 soldados poderemos ter a exata medida da tragédia que se abate sobre nós.


Poder-se-ia perguntar a essa altura: para que serve a Lei Maria da Penha, em vigência desde 2007? Imaginava-se que ela viria modificar esse quadro, preservando a integridade física das mulheres. Sua eficácia, entretanto, mostra-se bastante reduzida quando os operadores da lei não possuem treinamento adequado para atender as ocorrências, não decretando a prisão dos agressores ou não cumprindo mandados que garantissem a vida daquelas que ousam registrar queixas nas Delegacias Especializadas. Vale ressaltar que uma simples lei não muda um quadro cultural em que o homem se sente proprietário da mulher e que se acha com direitos sobre o seu corpo e a sua vontade, não aceitando o fim de um relacionamento quando a iniciativa é tomada por ela. A questão é mais profunda e se insere no quadro de desigualdades falado anteriormente.


O que podemos fazer para mudar essa dolorosa realidade? As discussões sobre ela nos remetem ao chamado “empoderamento” das mulheres. Esse termo foi criado para mostrar a necessidade de elas compartilharem o poder com os homens em todas as esferas, mudando dessa forma a correlação de forças não apenas no sentido político tradicional, mas igualmente no âmbito privado. “Empoderar” as mulheres é fazê-las capazes de decidir sobre seu corpo, seu trabalho, sua sexualidade. Essa luta não pode ser travada apenas pelas mulheres em seus coletivos de discussão. Ela é uma luta de todo o povo brasileiro: homens e mulheres. Nossos parceiros não podem ser nossos carrascos. Seria bom se esse 08 de março de 2013 pudesse ser um dia não apenas de comemorações frívolas, mas de reflexão para a vida e a felicidade de todos nós. 


*Professora do Laboratório de Estudos da Sociedade Civil e do Estado (LESCE) do Centro de Ciências do Homem (CCH) da UENF.